Valor Econômico Governo Lula teme que recuo no IOF descredibilize equipe econômica
Por Sofia Aguiar e Renan Truffi — Valor, Brasília
23/05/2025 10h06 Atualizado
Integrantes do governo Luiz Inácio Lula da Silva temem que o recuo do aumento em parte das alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) anunciado nesta quinta-feira (23) descredibilize a equipe econômica e vire uma nova crise na gestão. Interlocutores alegam que a decisão envolvendo o IOF foi de autoria do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e, por conta disso, não deveria ter impacto negativo no restante da equipe.
Segundo fontes, Haddad não consultou a equipe econômica sobre a possibilidade de aumento nas alíquotas do IOF, mas apenas informou os participantes do grupo. Para eles, a divulgação da medida junto ao anúncio do congelamento de mais de R$ 31 bilhões era um “tiro no pé” e já se previa um impacto negativo da medida.
Mesmo com o cálculo, ministros afirmam que não havia espaço para o debate, apenas aceitar a decisão de Haddad. Na avaliação de integrantes do governo, este foi mais um episódio que mostrou a “arrogância” do chefe da Fazenda envolvendo o anúncio de medidas econômicas.
Como mostrou o Valor, a decisão do Ministério da Fazenda de recuar do aumento nas alíquotas do IOF aconteceu após forte reação negativa do Palácio do Planalto. O assunto foi discutido numa reunião de emergência na noite de ontem pela cúpula da gestão federal. Além disso, o governo também decidiu consultar a opinião do presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, que se posicionou contra a medida.
O movimento foi feito à revelia do ministro da Fazenda, o que demonstra o enfraquecimento do chefe da equipe econômica perante os ministros palacianos. A primeira reunião sobre o assunto foi convocada pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, no início da noite. O chefe da pasta chamou os titulares da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), ministra Gleisi Hoffmann, e da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, ministro Sidônio Palmeira, para debater o assunto.
Em seguida, o chefe da Casa Civil pediu a presença de Galípolo para ouvi-lo sobre o mesmo tema. Na conversa, a autoridade monetária teria reforçado a mesma opinião que já havia circulado nos bastidores da Esplanada: o Banco Central é contrário às mudanças no IOF. O motivo é que as medidas têm impacto sobre crédito e câmbio e causaram reações negativas também de corretoras de câmbio e entidades representantes de instituições financeiras.
Galípolo já havia dito ao próprio Haddad que não concordava com esses anúncios. A conversa entre os dois aconteceu durante a tarde de terça-feira (20) e durou cerca de 1h30. Segundo relatos, foi uma reunião "tensa".